Jornadas Missionárias

JORNADAS MISSIONÁRIAS
20-21 de Setembro de 2025
A missão faz a Igreja
Quando, em 1995, me tornei pároco na África do Sul, concretamente em Glen Cowie, uma paróquia rural com 40 comunidades cristãs, no que hoje é a Província do Limpopo, e na altura era parte de um bantustão, quis empoderar e envolver ainda mais os leigos nas dinâmicas pastorais. A começar pelo Conselho Pastoral, para que, na medida do possível, eles ajudassem na definição das linhas de acção. Ao início, os membros quiseram certificar-se de que o meu estilo sinodal fosse genuíno. Mas, quando perceberam que eu queria verdadeiramente saber a sua opinião, sobretudo sobre aspectos que tinham grande incidência cultural, então perderam o receio de partilhar as suas ideias e sentir-se mais protagonistas da missão da Igreja.
Evoco esta experiência para apresentar o tema das Jornadas Missionárias deste ano que, como habitualmente, irão decorrer em Fátima, sobre a relação entre a sinodalidade e a missão. A sua finalidade é perceber, que a missão é constitutiva da Igreja e, por isso, é um dos pilares centrais da sinodalidade; e que as dinâmicas de comunhão e participação que a Igreja foi convidada a implementar devem levá-la a abrir-se à universalidade e a propor a mensagem libertadora do Evangelho e a comunhão com Jesus a todos os povos. Ou seja, “a sinodalidade é missionária”, como repetiu o Papa Francisco.
O Documento Final da Segunda Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, reafirma esta ideia ao dizer que a sinodalidade “não é um fim em si mesma, mas visa a missão que Cristo confiou à Igreja no Espírito” (No. 32). Ela supõe um modelo circular de Igreja, onde todos têm igual dignidade em virtude do seu baptismo, e em que todos, com a riqueza dos seus dons, têm um papel irrenunciável a desempenhar. Por isso, o documento afirma: “Valorizando todos os carismas e ministérios, a sinodalidade permite ao Povo de Deus anunciar e testemunhar o Evangelho aos homens e mulheres de todos os tempos e lugares” (No. 32).
A experiências das primeiras comunidades, narradas no livro dos Actos dos Apóstolos, como veremos durante as Jornadas, mostra como a sinodalidade, entendida como o “caminhar juntos” dos cristãos com Cristo em direcção ao Reino de Deus, leva à missão. A experiência de Cristo e do Seu Espírito, por um lado, e a atenção à realidade, por outro, gera o discernimento do que se impõe fazer e leva os cristãos a sair e a anunciar a sua fé.
Na esteira da experiência das primeiras comunidades e da nossa, percebe-se como a missão requer a “conversão de cada Igreja local e de toda a Igreja”, na perspectiva indicada na Exortação Apostólica Evangelii gaudium (cf. No. 30), que fala explicitamente de uma “conversão missionária”, da qual nem pessoas nem instituições se devem eximir.
O Cardeal Luís António Tagle, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização, deu um exemplo de como as dioceses também devem fazer o seu caminho sinodal missionário. No seu encontro com os directores nacionais das Obras Missionárias Pontifícias, no passado Mês de Maio, em Roma, deu o testemunho da sua diocese de Imus, na Filipinas, onde depois veio a ser bispo, antes de ser chamado para a Cúria Romana. Contou que, quando se ordenou, a diocese só tinha 27 padres, poucos para as suas necessidades. Apesar disso, o bispo decidiu enviar dois deles em missão. Os padres não concordaram, mas não demoveram o bispo. Deus abençoou aquela decisão e poucos anos depois, o número de padres mais do que duplicou. Daí a sua conclusão: “Quando uma diocese tiver escassez de vocações sacerdotais deve enviar alguns padres em missão.” Uma lição de lógica divina, só entendível na perspectiva da fé.
Em conclusão, podemos dizer que a Igreja faz a missão e que a missão faz a Igreja – atraindo mais pessoas para a comunhão com Jesus, ajudando quem se doa a aprofundar a sua fé a crescer e moldando a forma de a comunidade celebrar e ser cristã.
P. José Rebelo, Missionário Comboniano
Director Nacional das OMP
PROGRAMA DAS JORNADAS MISSIONÁRIAS
Fátima, 20-21 de Setembro de 2025
Auditório das Irmãs Concepcionistas aos Serviço dos Pobres
Sinodalidade e Missão
SÁBADO, DIA 20
10h00 – Boas-vindas, oração e introdução aos trabalhos
10h15 – REFLEXÃO: A Palavra em caminho (Sinodalidade na Escritura)
11h15 – Intervalo
11h30 – REFLEXÃO: A Palavra em missão (Uma Igreja sinodal missionária)
(P.e César Silva, Verbita)
12h45 – Interrupção dos trabalhos para o almoço
14h30 – REFLEXÃO: “A acção missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja” (Evangelii Gaudium, 15)
(P.e Pedro Fernandes, Espiritano)
15h30 – DEBATE
16h00 – Intervalo
16h30 – Trabalho de grupos sobre a “Conversão pastoral e missionária” da Igreja que achamos necessária
17h00 – Partilha dos grupos em plenário
17h45 – A minha experiência de missão
(Testemunhos de voluntários missionários Ad gentes)
18h45 – Interrupção dos trabalhos
19h00 – Eucaristia e jantar
21h00 – Procissão das velas no Santuário
DOMINGO, DIA 21
9h00 – REFLEXÃO: “Formar um povo de discípulos missionários”
(Irmã Maria de Fátima Magalhães, Teresiana)
10h30 – Fim dos trabalhos
11h00 – Eucaristia no Santuário
Pedimos que:
• Cada um/a encontre a acomodação que mais lhe convém.
• Se registe até ao início de Setembro.
• Por comodidade, faça o pagamento da inscrição (10 euros) ao chegar a Fátima.
Ideias-força das Jornadas Missionárias 2024
As Jornadas Missionárias deste ano realizaram-se, como habitualmente, em Fátima, nos dias 21 e 22 de Setembro. Num ano dedicado à oração, em preparação para o Jubileu de 2025, as Jornadas tiveram como tema A oração dos discípulos missionários.
O seu principal orador e animador foi o Padre Dinh Anh Nhue Nguyen, Secretário-Geral da União Missionária Pontifícia (UMP). O Padre Anh Nhue, de 54 anos, é vietnamita, engenheiro electrónico e biblista e pertence à da Ordem dos Frades Menores Conventuais.
Convidou-nos a ir à escola de Jesus e a aprender com Ele a manter a comunhão permanente com Deus. Do leque de ensinamentos e partilha entre os cerca de 100 participantes, que tiveram lugar no auditório das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, eis algumas das ideias-força que emergiram:
1. A oração é o princípio da missão. A compaixão pelas pessoas leva Jesus a recomendar a oração pelas vocações e a escolher os Seus discípulos para O ajudarem a cuidar delas: “Ao ver as multidões, (Jesus) compadeceu-se profundamente delas, porque estavam cansadas e abatidas como ovelhas que não têm pastor. Disse, então, aos Seus discípulos: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a Sua seara” (Mt 9, 36-38).
2. O acto de rezar é eminentemente missionário, ou como nos recordou o Papa Francisco já este ano por ocasião dos 180 anos da fundação da Obra da Infância Missionária, “A oração é a primeira acção missionária”. Conscientes deste facto, as Obras Missionárias Pontifícias têm como tarefa primeira a promoção da oração, juntamente com a promoção da informação missionária e da solidariedade entre as Igrejas. Somos missionários desde logo através da oração.
3. A oração está no centro do dia típico da missão de Jesus (cf. Mc 1, 21-39). Ele começa o Seu dia a rezar na sinagoga de Cafarnaum, continua a ensinar e a curar e “de manhã muito cedo, ainda escuro” (v. 35), retira-Se para rezar num lugar solitário, antes de continuar o Seu ministério nas sinagogas da Galileia. Além da oração na assembleia litúrgica das sinagogas, Jesus reza muitas vezes no monte (Mt 14, 23), sozinho e à parte (Lc 9, 18), por vezes com os salmos (cf. Mt 26, 30). Ele sente o desejo de intimidade silenciosa com o Pai, mas na Sua oração tem presente a Sua missão e a educação dos discípulos, como no baptismo (Lc 3, 21), antes da escolha dos doze (Lc 6, 12), no momento da transfiguração (Lc 9, 29) e antes do ensino do Pai Nosso (Lc 11, 1).
4. O Pai Nosso (Lc 11, 1-13; // Mt 6, 9-13), a única oração que Jesus ensina aos Seus discípulos, reflecte a proximidade de Jesus ao Pai, ao invocá-l’O como Pai (Abba), o termo usado pelas crianças para dirigir-se ao progenitor, que supõe carinho, mas também respeito. O Pai Nosso é definido como “a oração cristã fundamental” e “o resumo de todo o Evangelho (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2759-2772).
5. A Oração do Senhor, que é o paradigma da oração cristã e missionária, começa com dois pedidos paralelos: o da santificação do Seu nome e o da vinda do Seu reino. São de certa forma complementares, porque onde Deus reina, o Seu “nome”, ou seja, Ele próprio, é “santificado” e “glorificado”, o que significa reconhecido como santo e adorado como tal (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2807). Nestas invocações iniciais, vislumbra-se o grande desejo de Jesus pela causa de Deus que Ele levava constantemente no Seu coração e que agora quer transmitir aos Seus discípulos. Quem reza o Pai Nosso partilha o mesmo desejo de Deus e de Cristo, sobre a realização da missio Dei, a missão de Deus para a felicidade do homem.
6. A oração é a condição que nos permite ser discípulos missionários. Por isso, Jesus pede aos Seus discípulos que rezem com insistência e confiança filial. A oração é o sustentáculo da vida cristã e missionária. É nela que somos impulsionados a sair ao encontro dos outros, encontramos a força para não desanimarmos perante as dificuldades e ganhamos a coragem para falar do nome de Jesus, conscientes de que, como nos ensinou São Paulo VI, “Não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados” (Evangelii Nuntiandi, 22).
7. A oração dos discípulos, como a de Jesus, é orientada à missão. Depois da Ascensão de Jesus, os discípulos regressam à sala de cima (cf. Act 1, 14), e “eram assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações (Act 2, 42). Após a libertação de Pedro e João (Act 4, 23-31), e perante o espectro da perseguição, os discípulos não pedem a Deus protecção no perigo e incolumidade perante as ameaças, mas a força para anunciarem “com total desassombro” a Palavra de Deus. A missão vale mais do que a sua vida.
8. O ideal cristão de orar “em todo o tempo” só é possível quando há “tempos fortes da oração cristã, em intensidade e duração” (Cf. Catecismo da Igreja Católica, 2697). A oração vocal, a meditação e a contemplação são as três expressões principais da vida de oração (CIC, 2699-2719). As principais formas da oração são: a oração de bênção e adoração, a oração de petição, a oração de intercessão, a oração de acção de graças e a oração de louvor (CIC, 2626-2649).
9. A oração de intercessão, através da qual abraçamos espiritualmente as necessidades e anseios da humanidade e nos comprometemos a fazer o que está ao nosso alcance para melhorar a sua sorte, tem uma grande dimensão missionária. Ela é realçada pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium: “Há uma forma de oração que nos incentiva particularmente a gastarmo-nos na evangelização e nos motiva a procurar o bem dos outros: é a intercessão” (EG, 281).
10. A Eucaristia é fonte e cume da vida e da missão da Igreja. A comunidade cristã alimenta-se na Eucaristia, que é um mistério para ser celebrado e vivido no Espírito Santo. A Eucaristia está ligada ao mandamento novo do amor, ao mistério terrível da traição e da iniquidade (Mc 14, 18) e ao compromisso indefectível de Jesus com o Reino (Mc 14, 17-25). O mistério da comunhão com Jesus, como nos mostra o episódio dos discípulos de Emaús, começa “no caminho” com a explicação das Escrituras (Lc 24, 13-35). “Uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária”, escreveu o Papa Bento XVI na Exortação Apostólica Pós-sinodal Sacramentum caritatis, 84. E o Papa Francisco retomou esta ideia na sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2024, ao dizer: “Todos somos chamados a viver mais intensamente cada Eucaristia em todas as suas dimensões, particularmente a escatológica e a missionária. Reafirmo, a este respeito, que «não podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens» (Sacramentum Caritatis, 84).
PROGRAMA
SÁBADO, DIA 21 de SETEMBRO
9h30: Acolhimento e registo
10h00 – 1ª sessão: A oração de Jesus, o enviado do Pai
11h15 – Intervalo
11h30 – 2ª sessão: O Pai Nosso, a oração missionária
12h45 – Pausa para o almoço
15h00 – 3ª sessão: A oração dos discípulos missionários de Cristo
16h00 – Intervalo
16h30 – 4ª sessão: Quatro maneiras de rezar: A oração de petição, a oração de intercessão, a oração de acção de graças e a oração de louvor
18h00 – Espaço de oração
18h45 – Intervalo
19h00 – Eucaristia
19h30 – Jantar
21h30 – Terço e procissão das velas na Basílica
DOMINGO, DIA 22 DE SETEMBRO
9h00 – 5ª sessão: A Eucaristia, fonte e cume da missão e da oração
10h15 – Conclusões e fim dos trabalhos
11h00 – Eucaristia no Santuário, presidida por D. Rui Valério, Patriarca de Lisboa
13h00 – Almoço e partida
LOCAL/dATA
Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres
Fátima, 21 e 22 Setembro